Uma das citações mais antigas da palavra fé vem de um selo em mercadorias que viajariam por barco por muitos e muitos quilômetros até seu destino. Não era possível que aquele que era responsável pela averiguação da carga em sua origem viajasse até o destino para pessoalmente, em carne e osso, provar a autenticidade da carga. Assim sendo, ele tinha um selo, e este selo dizia "Fé". Aqueles que recebessem a carga, teriam de depositar sua confiança (preço, certificações, aplicações com risco de vida, etc.) naquele selo, ou seja, deveria ter como firme fundamento de algo que eles esperavam (que a carga fosse o que eles esperavam) e ter como prova das coisas que eles não viam (o processo da origem até o destino) aquele selo: Fé.
Hoje, muitos selos existem, assinaturas, reconhecimentos de firma, marcas e registros feitos em cartórios, etc. Tudo baseado na fé. Caso a pessoa não tenha fé naquela marca, registro, selo, enfim. ela terá de percorrer um grande caminho, gastar muitas energias e talvez tornar a vida inviável, por não ter fé.
A definição de fé é encontrada na carta bíblica intitulada aos Hebreus, capitulo 11. Em várias versões:
- Firme fundamento das coisas que se esperam, é a prova das coisas que não se vêem.
- A certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem.
- A certeza de que vamos receber as coisas que esperamos e a prova de que existem coisas que não podemos ver.
- A certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos.
- A substância das coisas esperadas, a prova das coisas não vistas.
- O fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê.
- The substance of things hoped for, and the sign that the things not seen are true.
- Assurance of [things] hoped for, a conviction of things not seen.
- The substance of things hoped for, the evidence of things not seen. {substance: or, ground, or, confidence}
- La sustancia de las cosas que se esperan, la demostración de las cosas que no se ven.
- Certezza di cose che si sperano, dimostrazione di cose che non si vedono.
- Une ferme attente des choses qu'on espère, l'évidence de celles qu'on ne voit point.
- A convicção segura de que alguma coisa que nós queremos vai acontecer. É a certeza de que o que nós esperamos está nos aguardando, ainda que o não possamos ver adiante de nós.
Pois bem.
Quem decidiu se eu seria mulher ou homem?
Sobre se nasceria em 1289 antes de Cristo ou em 2045 depois de Cristo?
Se seria no Brasil ou na Mongólia?
Quem decidiu quem seriam meus pais?
Decidiu sobre o formato, o tamanho, a cor, a textura do meu corpo...
Ei! Não sei até que ponto você leva a sério isso, mas... não fui eu quem decidiu. Não me faço de bobo para esta constatação.
Mas deixa eu contar um detalhe. Eu usufruo de tudo isso. E como usufruo sabe.
Eu uso 24h por dia durante todos os dias de minha vida todo um conjunto de aparatos que não fui eu quem escolheu. E não consigo me imaginar sem eles. Aliás, toda humanidade conhece um quase nada de como é feito o corpo humano, quanto mais cria-lo e decidir tudo isso.
Eu só usufruo. Eu simplesmente vivo. Tenho todos estes atributos e toda uma vida a minha disposição. Tenho livre-arbítrio, energias, tempo, possibilidades, o Planeta terra e o universo.
Um pouco de vivência e logo percebo que tomar decisões é algo complexo. O melhor de mim não consegue fornecer ao meu livre-arbítrio fundamentação para tomar decisões que satisfaçam o senso de perfeição que há em mim nem a complexidade de todas as minhas necessidades mais sinceras.
Onde estaria a base, o fundamento digno de apoio que satisfaça estes anseios, o desejo de que as maravilhosas decisões que deram origem a este ser tão complexo e belo que constituo continuem a ser tomadas no mesmo sentido, na mesma metodologia, no mesmo objetivo?
Parece-me claro e rapidamente perceptível (não sei ao meu caro leitor) que não poderei pegar o barco e ir às origens vasculhar tudo isso sem ter gasto milhares de vezes a vida que disponho tão preciosa. Pegar o barco significa entrar em uma empreitada sem fim, gastar a vida toda para tentar descobrir algo que o selo já dizia, mas que não recebeu minha confiança.
Jamais se farão projetos maravilhosos com esta madeira selada que é o que tenho em mãos para construir minha vida caso não confie no selo. Esta madeira não terá valor para mim se eu não confiar no selo. Mais e mais madeira estará chegando e de nada adiantará, pois não confio no selo. Venderei coisas raras e preciosas como bijuterias, trocarei por algo que me satisfaça agora, visivelmente, palpavelmente, pois para mim o selo não tem valor... Para sair desta situação tenho duas opções, confiar no selo ou pegar o barco.
Eu vou confiar no selo, e você?